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05.04.2012 - 15h04
Tragédia que não acaba com o sofrimento
BUTIÁ - A história de uma mãe que sofreu durante 22 anos, com um relacionamento conturbado e violento, que teve um desfecho trágico. O filho rejeitado, para defender esta mãe acaba matando o próprio pai.
Jussara inicia seu desabafo contando como era sua vida com o ex-marido Nelson.
- Desde o início foi muito difícil. Ele fazia roleta russa comigo, bebia muito e colocava o revólver em minha cabeça. Nunca falava aos meus pais para não preocupá-los. Eu tinha muito medo dele e por isto não o denunciava.
Jussara morava com Nelson na Vila Charrua. Tiveram cinco filhos, e um deles sempre foi rejeitado pelo pai. Depois de ter os filhos às ameaças ficaram ainda pior. Segundo ela, Nelson era uma pessoa viciada em álcool.

Ameaças
- Diversas vezes os policiais militares tiveram que intervir nas brigas, vivi sempre ameaçada de morte. Meu filho sempre foi rejeitado por ele, dizia que ele não era seu filho. Foram os meus pais que o criaram, pois não queriam que o filho fosse maltratado. Nem a comida que eu colocava dentro de casa ele deixava o menino comer, explica.
Com a separação, as coisas pioraram, as ameaças ficaram ainda mais graves.
- Ele enlouqueceu ainda mais. Disse que se eu não vivesse com ele, não viveria com mais ninguém. Falou para todos que iria me matar e matar os filhos. Ficaria apenas a filha mais nova de 15 anos, o resto ele mataria, inclusive meus pais, relembra Jussara, que fala na demora da justiça e sobre a lei que deveria garantir a sua segurança.
- Tenho muitos registros de Lei Maria da Penha, que ele nunca obedeceu, nunca respeitou. Nas audiências, fui encaminhada para psiquiatras e psicólogos. Ele era sempre o bom. Tive que me afastar da minha casa para proteger meus filhos. Aluguei casa e quase a perdi, pois ele bebia invadia e fazia barracos e nos ameaçava com armas. Nós íamos até a delegacia, acabávamos na justiça e nada era feito com ele - conta Jussara, completando que isso se repetiu por diversas vezes.
- Sempre falava na delegacia, sempre dizia o que estava acontecendo. Explicava o quanto ele estava perturbado e que poderia fazer algo pior, pedia e até mesmo implorava para que fizessem alguma coisa e nada era feito.
Reclama que sempre foi desacreditada pelos policiais e pela justiça, que diziam que ele contava outra coisa e que acreditavam nele. Chegaram a dizer “esse era o pai que ela escolheu para seus filhos. Então que resolvesse a situação.”
- Nunca imaginei que fosse assim e jamais iria escolher essa vida para meus filhos. Tive que me afastar de empregos em Butiá, porque todos os lugares que trabalhei ele invadia e fazia fiascos, sempre bêbado. Acabei por optar em ir trabalhar em Porto Alegre e meus pais reparavam os meus cinco filhos.
O início da tragédia anunciada foi num domingo. Nelson invadiu a casa novamente, mas os policias conseguiram impedir o pior.

Agressão
- Ele bateu em mim, na minha filha mais velha, quebrando três costelas dela e a machucando nos joelhos ao arrastar pelas pedras. Quando sacou a arma para atirar, fomos para cima dele e conseguimos desarmá-lo. Ele só não matou todo mundo porque conseguimos segurar ele. Foi chamado a Brigada. No meio da confusão ele foi ferido com um tiro. Ele começou a culpar o meu filho dizendo que o menino tinha atirado nele.
- Foi ai que ele disse ao meu irmão que no próximo final de semana ele iria matar todos. Disse que foi baleado e não iria mais esperar para realizar o seu plano. Jussara conta que estava trabalhando, quando o filho disse que desceu até a casa dele para falar com o irmão que morava com o pai. Neste momento Nelson atacou o próprio filho na chegada da casa, ameaçando pegar a arma e para atirar nele. Tentando se defender o filho atirou no pai.
Jussara diz que o menino confessou que foi com medo de que o pai matasse toda a família que houve a tragédia.
Relata que é um sentimento que parece não ter fim.
- Vivi essa vida, mas nunca desejei o mal para o Nelson. Em momento algum eu gostaria que meu filho tirasse a vida do pai, mas ele foi apenas se defender e acabou acontecendo essa tragédia.

Medo
Aflita explica que hoje o filho está em liberdade, aguardando o julgamento.
- Espero que a justiça leve em consideração que foi legítima defesa. Em momento algum ele teve a intenção de matar. Não gostaria que ninguém visse meu filho como um assassino, pois ele viveu ameaçado e rejeitado durante toda a sua vida. Não consigo ainda viver em paz ou tranquila, mas o que me preocupa muito ainda é a reação dos irmãos. Hoje poderiamos estar todos mortos.
Finalizando diz que na verdade todos já morreram um pouco com tanto sofrimento.
- Já sofremos demais. Foi uma verdadeira tragédia e eu e meu filho ainda estamos sofremos com tudo isto. Mesmo sem ter qualquer culpa, todos nós já fomos muito castigados -, encerra uma mãe que teme o que chama de mais uma injustiça que pode ser cometida contra seu filho.